Quem conhece o meu trabalho sabe o quanto dou valor as questões relacionais e não é por menos. Somos seres relacionais, construímos nossa identidade a partir dos relacionamentos. Do início ao fim da vida. Neste texto explico um pouco sobre isto.
Nossos corações anseiam por contato e diálogo genuíno. Sem diálogo estamos sós, isolados não só do outro, mas de nós mesmos. A partir do encontro relacional temos a oportunidade de deixar emergir nossa singularidade. Sem o outro não é possível nos percebermos, observarmos nossas diferenças e riquezas pessoais.
No fundo, todos nós precisamos ser confirmados, validados, ter nosso colorido qualificado, reconhecido e, por consequência, diferenciado. Nossa singularidade se constrói a partir destes movimentos e é aí que vamos qualificando o que entendemos ser.
Queremos ser percebidos em nossas potenciais, mas também em nossas vulnerabilidades e, desta forma “suportados” , apoiados para irmos adiante, crescendo. Quando validados e reconhecidos nos sentimos aptos e potentes, quando suportados e apoiados nos sentimos dignos de sermos amados.
Neste sentido, se relacionar é fundamental, quase como se alimentar. “O paradoxo do espirito humano é que: não sou completamente eu mesmo, até que seja reconhecido em minha singularidade pelo outro – esse outro precisa do meu reconhecimento a fim de se tornar a pessoa única que é. Somos inextrincavelmente entrelaçados. Nossa validação pelo outro traz valor a nós mesmos”. Erving Polster
É mais fácil entendermos isso quando pensamos no processo de construção de singularidades solicitado por um recém nascido. Enquanto o bebê cresce, vai desenvolvendo sua singularidade, se diferenciando e verificando o quanto a sua presença solicita o outro... Primeiro ele percebe o ambiente e o qualifica, se “qualificando” junto. Depois os cuidadores vão tomando forma e a medida que esta forma vai se detalhando o bebê se dá conta de si, se diferencia e vai fazendo contato, qualificando este contato e a sí mesmo. Junto com isto a mãe e cuidadores se ressignificam, alterando sua singularidade para responder ao que é pedido. Agora cuidar e se qualificar quanto a isso.
É lindo de ver! Para o bebê serão os primeiros exercícios relacionais e estes marcarão a sua forma de se relacionar e para os cuidadores a revisão deste exercício é a possibilidade de se reinventar.
Isto é algo profundo e ao mesmo tempo simples, pelo fato de acontecer naturalmente. Nós simplesmente vamos exercitando nossas construções de singularidade sem que precisemos nos dar conta do que estamos realizando. Mas, como pais e cuidadores, é bom termos clareza do que acontece no todo do cuidar.
Quando eu atendo adolescentes em seus movimentos de revisão do que foi organizado até então, trabalho bastante as questões quanto a confiança no mundo e em sí, as bases da famosa autoestima, e aí muitas questões do vivido lá atrás se fazem presentes. O bom é que muito pode ser trabalhado e ressignificado. E é maravilhoso poder ser quem os suporta nestas revisões e quem os ajuda a se qualificar novamente, se preciso de forma diferente da vivida. E então temos ai as novas construções de um futuro adulto seguro e confiante.
Tudo isso como? Com muita atenção as necessidades e a partir do exercício de um encontro relacional atento e, no caso dos grupos, de muitos encontros relacionais!
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