Hoje quero compartilhar com você um comentário bem legal que recebi. É sobre o medo de julgamento por parte dos outros. Achei tão pertinente que pedi licença para publicar e escrever um pouco sobre isso.
Dizia assim: “Tenho muito medo de ser julgado negativamente. Fico pensando se sou adequado, se respondo as expectativas das pessoas. Tenho receio da terapia, pois imagino como você avaliaria as coisas que faço”!
Pensei em contar aqui como posso trabalho este tema no consultório. Lembrei das sábias palavras de Carl Rogers em um ensaio para terapeutas: É muito difícil, senão impossível, estar diante de alguém estando ali sem desejo, sem memória, sem sentimentos. Parece próprio do ser humano desejar, sendo esse desejo, quase sempre, o reflexo de nosso próprio mundo, de nossas próprias expectativas, de nosso momento no aqui-agora.
Isto, em maior ou menor grau, acontece em toda interação com o outro. Nós desejamos ou avaliamos o que chega a nós. Pais desejam coisas dos filhos, namorados esperam ações das namoradas, amigos avaliam outros amigos.... Não é tão incomum assim, o que importa mesmo é como nos sentimos diante disso, o que fazemos. Será que precisamos responder a tantas expectativas? O quanto achamos que devemos ser “isso” ou “aquilo” pode acionar um tanto de medo de julgamentos.
A alguns anos entendi que muitos dos desejos em relação ao que o outro fará, aparecem por conta de querermos nos igualarmos, de nos assemelharmos aos outros. Algo quase natural no humano, que pode dar uma sensação de maior segurança. Quando estamos com os semelhantes nos sentimos pertencendo, confirmados e por isso mais seguros. Mas será que esta segurança é verdadeira?
Quando este tema aparece, eu gosto de falar sobre a verdadeira segurança, vinda da confirmação e validação que está em nós mesmos e não no outro. Entregue a sua validação ao outo e corra o risco de não ser validado, pois estará a mercê do que o outro julga adequado. E aí temos o medo do julgamento. Tenha claro o que é seu, o que é valor para você e então a sua validação e o seu julgamento estará com você, você avalia.
Acontece mais ou menos assim: vou fazer deste jeito porque sei que o fulano vai gostar... e fico no aguardo do retorno do outro. Se não vier, já era! E o pior é que, em algumas situações destas, a pessoa nem se pergunta e gosta disto? Acontece muito nas mídias sociais e vejo alguns jovens acabados por conta disso.
No processo psicoterápico um dos exercícios realizados na consulta é aceitar o que cada um trás de seu, no jeito de se colocar na relação. Temos o encontro de duas pessoas diferentes, o eu do terapeuta e o tu do paciente. Nos grupos isso ainda se amplia.
Desta forma, o convite é para que o paciente se deixe o mais a vontade possível, deixe vir o que está querendo trazer e vá percebendo o que lhe dá desconforto. Assim podemos observar expectativas e os próprios julgamentos e podemos também, trabalhar o que fazer com isso.
Segundo Carl Rogers, entrar, humilde e plenamente, no universo interior do outro exige despojar-se de todo preconceito, revestir-se de uma atitude verdadeiramente humana, abrir-se à comunicação. Qualquer atitude de julgamento, em psicoterapia, nos afasta da rota que conduz ao interior do outro, cega nossa percepção clara, mata, no nascedouro, toda e qualquer esperança de encontro.
Espero ter lhe ajudado a pensar um pouco mais sobre isso e que tenha percebido um dos caminho possíveis que proponho para que as pessoas possam livrar-se do medo do julgamento.
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