Hoje é dia do paciente.
E mais uma vez, a querida Doris compartilha um pouquinho da sua trajetória de melhora. Conta o seu processo de saída do labirinto pós Covid.
Muito lindo, fico até emocionada!
Meu processo terapêutico nestes tempos pandêmicos tem sido muito rico, permeado de metáforas e imagens potentes que surgem no diálogo com Claudia. Em um destes dias, a temática fluía em torno da imagem de um labirinto, onde precisamente eu me sentia estar, por conta da saga pós Covid: Muitos médicos, exames, processo dolorido, cansativo, estressante mesmo!
Eu podia ver as paredes do labirinto, podia senti-las me oprimindo, em cada passo outra parede surgia: medos, angustias, dúvidas... os muros se multiplicavam, num caleidoscópio sem fim, sem saída. Meus silêncios eram imensos, de estres, angustia e também por falta do que contar, por falta de vontade de falar com as outras pessoas que insistentemente repetiam: você vai melhor, tudo estara bem! Bem? para quem? se o que sinto e vejo é um labirinto? Cansaço! No auge do stress, uma pergunta da Claudia me fez refletir: o eu que sentia como potência antes da Covid? Mesmo com dificuldade para responder, fiz um esforço e conectei aos poucos algo muito precioso para mim: fazer algo que traga benefício para os seres.
Me sentindo incapaz para realizar ações por web ou pessoalmente, busquei algo que tenho certeza também traz benefícios aos seres: meditar. Fazer esta pratica diária, mesmo que por períodos curtos, foi e é muito importante! Lentamente um outro silêncio se desenhava, já não era só de cansaço, mas de paz. O labirinto permanecia, mas com uma pequena pedra, comecei a marcar as paredes por onde passava, podia assim reconhecer o caminho percorrido, evitando repeti-los. Este gesto abriu a possiblidade de buscar novos caminhos e perceber que sou apta para percorre-los, que não preciso fazer tudo rapidamente, que vou precisar de tempo e paciência.
Tenho meditado mais, acolhido meu cansaço com mais amorosidade, respeitado meu tempo... percebi então, que não há um caminho pronto para sair dele, tenho que colocar a cada passo a pedra seguinte para pisar, sentir onde estou e então colocar a próxima pedra. Por conta disso, tenho caminhado mais lentamente que antes, quando escolhia por onde ir e olhando no horizonte, podia correr. Agora, vou passo a passo e repito o mantra: Um dia por vez. Isto de algum modo me acalma.
Colocar a pedra, pisar, olhar o caminho percorrido, olhar com amorosidade e paciência o próximo passo e então, colocar a outra pedra....exercício necessário nestes tempos de tanto labirintos políticos e pessoais. Ainda muito cansada e fazendo esforço para seguir adiante, começo ter mais certeza que sim, há saída neste labirinto. Ela pode estar nos diálogos com a terapeuta, no aconchego de alguns amigos-amores-familiares, em médicos de confiança e também na decisão de meditar, no silencio que acolhe e pode guiar os próximos passos. Quais minhas potencias? Para onde este caminho me levara? Quais as pedras que quero, preciso colocar? Existem outros modos de sair do labirinto? Ainda não sei, mas gosto de ideia de que posso reencontrar ou inventar, aprender, partilhar, descobrir, enfim reencantar a vida. Aprendizados no caminho. Aprendizados.
Por: Doris Marroni Furini
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